Como era?
Para falar sobre mudanças na educação e como isso tem afetado a forma de ensinar atualmente, devemos voltar um pouquinho no tempo e lembrar de como era a educação há não tanto tempo assim.
Se pensarmos em, digamos, duas gerações, o modelo de sala de aula era assustadoramente diferente. Neste cenário, o ambiente escolar era coercivo por vezes. A escola era um lugar de ‘ordem e respeito’ onde as figuras de autoridade (professor, coordenador, diretor) eram vistas como detentores da verdade absoluta (ao menos, pelos alunos).
O foco era no conteúdo e a famosa decoreba assombrava os alunos que queriam ‘passar de ano’, alunos esses, por sua vez, expectadores de uma aula centrada no professor e sem muitos padrões de interação.
Indisciplina era tratada com punições, advertências e pouca empatia.
Aprendia-se matéria na escola. Matéria essa necessária para que o aluno se ‘formasse’ e conseguisse um ‘bom emprego’. Estava definido assim, o papel da escola na vida do aluno.
Porém, com os novos paradigmas da educação surgidos nos últimos anos, esse modelo de ensino se viu cada vez mais fraco e ineficaz, incapaz de atender as necessidades do ‘novo aluno’, que não se contentava mais em ser passivo.
O aluno passou a buscar participação no processo de aprendizagem e os termos ‘se formar’ e ‘bom emprego’ passaram a ser questionados quanto a seu real significado. Mas por quê?
Por que mudar?
Com novas pesquisas na área da psicologia da educação, o aspecto lúdico/participativo foi apontado como um dos mais importantes para a aprendizagem, estando diretamente ligado ao prazer do aluno em aprender.
Sobre isso, temos várias teorias.
Carl Rogers, renomado psicólogo americano humanista, acreditava que, no ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do terapeuta e o do aluno ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor seria facilitar o aprendizado, que o aluno conduz a seu modo.
No campo da educação, Rogers estava convencido de que as pessoas só aprendem aquilo de que necessitam ou o que querem aprender.
Seguindo essa mesma linha de pensamento, temos Deleuze na filosofia francesa, que tendo sido professor e grande amigo de Foucault (filósofo, historiador, teórico social, crítico literário e professor) tinha uma visão bastante divergente do modelo que vinhamos adotando nas escolas.
Para Deleuze, ‘uma aula é uma espécie de matéria em movimento’ sendo que cada aluno vai absorver o que lhe convém. Deleuze relaciona a aula a emoção, sem a qual o aluno não aprende, não absorve. Veja o vídeo nesse link.
Sobre mudanças na educação, Deleuze faz menções sobre ‘superações de rigidez de modelos’: desde as relações de poder até o enfileiramento das cadeiras na sala de aula.
Para ele, a escola deveria ser o mais ‘caótica’ possível, no sentido de superação do pensamento ‘dentro da caixinha’ e mecanizado, com o intuito de ensinar a construir novos conceitos ao invés de repetir os velhos.
Temos ainda, na neuroeducação, o Doutor em Medicina e também Doutor em Neurociência na universidade de Oxford, Francisco Mora, uma das maiores referências no campo, que bate na tecla de que “o cérebro precisa se emocionar para aprender”. Escrevemos um artigo no qual você pode saber mais sobre como o cérebro da criança aprende.
Ao entendermos como os processos de ensino e aprendizagem se dão, faz-se necessário mudanças na educação de forma a acompanhar/atender o desenvolvimento e necessidades do aluno
Passando pela psicologia, filosofia, neurociência e neuroeducação, percebemos essa questão da urgência na mudança na forma de ensinar. Mas como fazê-la?
Estratégias para mudanças na educação
Ainda embasados na neurociência e psicologia, sabemos que apenas ‘exigir’ a atenção do aluno não funciona, e estudos na área já estão começando a desvendar que elementos com os quais nos conectamos pessoalmente, nos motivam e retém a nossa atenção.
Pegue as aulas de 50 minutos: “Estamos percebendo, por exemplo, que a atenção não pode ser mantida durante 50 minutos, por isso é preciso romper o formato atual das aulas. Mais vale assistir 50 aulas de 10 minutos do que 10 aulas de 50 minutos. Na prática, uma vez que esses formatos não serão alterados em breve, os professores devem quebrar a cada 15 minutos com um elemento disruptor: uma anedota sobre um pesquisador, uma pergunta, um vídeo que levante um assunto diferente…” (MORA, Francisco. Entrevista a El País Brasil)
Medidas simples como a supracitada, tem a capacidade de mudar todo o planejamento de uma aula e fazer com que a mesma se torne leve e faça sentido através de debates, discussões e um senso geral de colaboração e participação ativa.
Cabe ao professor, neste novo modelo de ensino, propor tarefas desafiadoras, usar exemplos e casos reais, estimular o discernimento e o questionamento, de forma a proporcionar ao aluno a experiência, a vivência e o protagonismo que ele tanto anseia. Para conhecer maneiras diferenciadas de ensino, leia este artigo!
A escola hoje, encara um grande desafio pela frente: a de ser um ‘centro irradiador de saberes’ ao invés de uma simples ‘instituição de ensino’.
Vivemos em uma era de paradigmas educacionais. Sabemos que hoje uma graduação não é o suficiente para o exercício de uma profissão.
O mercado hoje busca por profissionais engajados, participativos, com pensamento crítico, que fica a encargo da escola, proporcionar.
As próprias escolas tiveram que adotar reuniões de formação continuada para a capacitação de professores, repensar elementos de formação de intelecto, inclusão e participação ativa na vida acadêmica dos alunos.
Temos hoje escolas formadoras de seres pensantes, bem diferentes das escolas que descrevemos ao início desse artigo. E já entendemos o porquê e como fazê-lo. E Agora?
Como vai ser?
Acho que já deu pra perceber que alguém aqui ama Deleuze né? Pois bem. Comecemos a falar sobre o futuro da educação com uma citação dele sobre mudanças na educação: “Não nos cabe temer ou esperar, mas criar novas armas” (DELEUZE, 1992. p.220).
Armas e ferramentas essas que chegaram para tornar o processo de aprendizagem mais interessante, atual e atraente para o jovem de hoje, contextualizando assuntos e descentralizando a sala de aula.
É claro que não conseguiremos inovar a forma de lecionar, se continuarmos a repetir modelos e padrões arcaicos.
Citando o pesquisador e professor de educação inovadora e metodologias ativas e cofundador do projeto escolas do futuro (USP) José Manoel Moran:
‘Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaçotemporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de comunicação’. Ainda sobre o novo modelo de educação:
‘A aquisição da informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma rápida e atraente. O papel do professor – o papel principal – é ajudar o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.’
Vemos tais mudanças acontecerem atualmente nas escolas.
Claro que ainda de uma maneira tímida e meio receosa. Há ainda certo questionamento acerca do papel do professor e novas tecnologias em sala, no entanto, uma coisa é certa: A mudança já começou.
Neste ano tivemos a reformulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), onde CULTURA DIGITAL passa a ser uma competência tão importante quanto as outras, alinhadas as necessidades do aluno do século 21.
É importante que o aluno de hoje saiba como utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas, já que é nesse mundo em constante evolução em que ele vai ser desafiado a inovar em busca de oportunidades cada vez mais exigentes.
Modelo YOU
Na YOU, temos plena consciência dessas mudanças na educação e no mundo, e acreditamos que a aquisição da língua se dê de forma eficaz quando atividades de vivência são incorporadas no processo de aprendizagem.
Nosso modelo pedagógico tem base na crença de que através da colaboração e trabalhos participativos, a aquisição da língua ocorra de forma mais eficaz e efetiva, já que o processo pelo qual o cérebro aprende vai da motivação à atenção e finalmente, memória, como vimos anteriormente.
Na prática
Como professora, tenho a oportunidade diária de presenciar essas mudanças em sala de aula enquanto elas acontecem e, ser parte disso, é desafiador.
Nunca achei que no auge dos meus 31 anos de vida, 10 destes passados em sala de aula, me encontraria em situações em que me sentiria totalmente ultrapassada.
‘Miss, por que você não usa esse aplicativo de sorteio ao invés de papel? Perdi a folha de redação. Compartilha o arquivo comigo?’ Frases comuns para eles, que me assustavam.
E agora? Como esperar que alunos super antenados e conectados se interessem por aulas com técnicas não tão up-to-date (atualizadas) assim?
Cabe ao professor se engajar. Aprender. Mover-se. Ser entusiasta de novas tecnologias. Ser conectado e multidisciplinar. Transformar a aula em um momento precioso de interação onde o aluno é ouvido e motivado enquanto aprende de forma prática, contextualizada e natural.
Tudo isso, aprendo todos os dias dando aula na YOU.
É preciso reaprender a ensinar.
- O que os alunos desenvolvem a partir das aulas de STEAM - 30 de março de 2021
- Entenda os diferenciais da Educação Bilíngue - 16 de outubro de 2019
- Certificado CELTA: por que é tão importante? - 20 de agosto de 2019
Pingback: Benefícios de uma sala de aula inovadora | YOU - Bilingual Education
Maravilhoso.