O conceito de educação contemporânea enfrenta mudanças cada vez mais profundas, uma vez que acompanha as demandas do mercado profissional, a realidade social e as transformações do mundo. E a velocidade com que essas mudanças acontecem é reflexo dos avanços tecnológicos, que, nos últimos tempos, vêm gerando uma revolução em todos os setores e também no segmento educacional.
“Todos os desafios da educação contemporânea atravessam o espaço escolar. Não existe a escola e o mundo. O mundo atravessa a escola.”
Viviane Mosé
(Filósofa)
Os desafios da educação na atualidade constituem um tema que pode ser abordado por diversas vertentes. A realidade social marcada pelos conflitos e a violência, em especial nas escolas públicas, é um dos exemplos a serem trazidos para essa discussão. Além disso, o aumento dos casos de transtornos de ansiedade em crianças e o uso de medicamentos também se trata de um dos grandes desafios enfrentados na história da educação contemporânea.
Diante de tantos cenários, elencamos para este artigo alguns dos principais desafios relacionados à educação atual no Brasil e no mundo, a partir do advento da tecnologia na escola tradicional e na contemporânea.
Acompanhar as demandas do mercado de trabalho
“Há um descompasso claro entre as demandas de aprendizado requeridas no século XXI e o que é oferecido pelo sistema educacional atual, cujas bases remontam à Revolução Francesa. Só essa sentença já evidencia que alguma coisa está fora da ordem.”
Sandro Magaldi I José Salibi Neto
(Livro Gestão do Amanhã)
Um estudo publicado pelo Fórum Econômico Mundial, em 2016, apontou que nos próximos anos mais de um terço das competências essenciais exigidas para a maioria das profissões relevantes será baseado em aptidões que ainda não são consideradas no processo educacional. Ainda assim, existe a possibilidade de algumas dessas competências ainda nem existirem.
Nesse mesmo estudo, chegou-se à conclusão que em torno de 50% do conteúdo trabalhado no 1º ano de um curso regular em uma universidade se torna obsoleto no seu 4º ano, tamanha a velocidade de depreciação do conhecimento de determinadas matérias. Em decorrência disso, a formação de um estudante ou profissional deve ser contínua, ou seja, não se pode parar de estudar. Esse fenômeno é conhecido como “lifelong learning”.
Esses dados reforçam a tese de que a maior parte das crianças de hoje em dia, estimada em 65%, terá acesso a empregos que ainda não existem. Além disso, também em 2016, a consultoria McKinsey publicou um estudo que indicava a automatização de até 45% das tarefas que atualmente são executadas por indivíduos, com a utilização de tecnologias já existentes. Sendo assim, é possível imaginar o crescimento exponencial dessa porcentagem, com as evoluções tecnológicas que não param de acontecer.
Com isso, como a escola pode se moldar a um modelo ideal para preparar o profissional do futuro? Afinal, qual o perfil desse profissional?
Falta de um modelo eficiente de ensino à distância
“Há um consenso em todas as esferas da educação e da gestão de que ainda não foi desenvolvido um ambiente digital que permita engajamento pleno do estudante com o processo de aprendizado.”
Sandro Magaldi I José Salibi Neto
Conforme vimos no artigo sobre Educação 4.0, o advento da tecnologia trouxe o fenômeno da democratização da informação, a partir da facilidade de acesso à internet e do compartilhamento de conteúdo, de forma rápida e com um custo acessível. E, assim, surgiu um novo formato de educação contemporânea, os MOOCs (Massive Open On-line Courses), que significa Cursos On-line Abertos Massivos.
Essa adaptação do ensino que, num primeiro momento, consistiu basicamente na digitalização dos materiais e transmissão das aulas tradicionais, evidenciou o despreparo das instituições ao usar essa evolução tecnológica no segmento educacional. O desconhecimento sobre a dinâmica do estudo on-line, considerando as circunstâncias dos ambientes físico e digital, não permitiu explorar todas as potencialidades do ensino à distância para o devido engajamento do aluno.
Segundo Magaldi e Neto, “foi adotado um repertório antigo para lidar com um fenômeno novo”, num processo de migração, o que mantém, ainda, o modelo tradicional acima dos MOOCs na educação contemporânea.
Valorizar o aprendizado acima da educação
“Educação é o que outras pessoas fazem por você. Aprendizado é aquilo que você faz por si mesmo.”
Joi Ito
(Diretor do MIT Media Lab)
Dentre os desafios da escola no mundo contemporâneo, pode-se destacar a dificuldade em despertar o interesse e a curiosidade dos alunos no processo de aprendizado, pois isso exige a quebra de paradigmas. E, sumariamente, esse movimento consiste na associação de práticas pedagógicas que se mostram eficientes na educação contemporânea e na adoção de novos elementos que estimulem essa geração de nativos digitais na construção do conhecimento.
Em paralelo, a escola no mundo contemporâneo deve reconhecer a importância de aproximar os atores da comunidade escolar – alunos, pais, professores, coordenadores – a fim de participarem ativamente do desenvolvimento educacional das crianças. A propósito, esse é o cerne da gestão escolar democrática, assunto que discutimos em outra oportunidade.
Essa valorização do processo de aprendizado promove o meio, o “como chegar à solução”, por meio das perguntas corretas, o incentivo à reflexão crítica e à formação do pensamento, em vez de focar no fim, na resposta rápida, pronta, memorizada e habitualmente transmitida pelo professor.
Educador como Facilitador
Por isso, na educação contemporânea, o educador assume o papel de facilitador nesse processo de aprendizado, deixando de ser o único meio de acesso ao conhecimento dentro da sala de aula. Por sua vez, o professor passa a preparar o aluno para pensar, refletir e desenvolver o pensamento crítico, a partir de uma aprendizagem mais ativa e no acesso aos conhecimentos explícitos, geralmente, em dispositivos e plataformas. “Todos os programas educacionais devem se dedicar a ensinar aquilo que o indivíduo não tem acesso por si só.”
“Esse é um efeito colateral perverso do tradicional modelo educacional. Se o indivíduo assume o risco de buscar um caminho distinto e não obtém a solução padrão, mesmo considerando que a jornada seja criativa ou instigante, a avaliação tende a ser negativa.”
Sandro Magaldi I José Salibi Neto
Gestão escolar contemporânea
A onipresença da tecnologia exige uma reformulação do ensino e uma reestruturação do ambiente escolar. Assim, modelos de gestão empresarial, como o Design Thinking, Business Model Generation, Lean Startup devem fazer parte dos programas educacionais. Da mesma forma, as escolas só têm a ganhar ao aprender com outros segmentos, para que a construção do seu currículo seja ainda mais condizente com a realidade do mercado.
Magaldi e Neto, em seu livro Gestão do Amanhã, propõem alguns questionamentos importantes no âmbito da educação contemporânea, dentre eles:
- Você conhece instituições que estão revolucionando a educação?
- Quais são os casos de empresas mais representativos para seu negócio?
- Qual é o seu atual nível de conhecimento a respeito de novas tecnologias e modelos de aprendizagem?
- Você conhece as novas profissões que estão surgindo a cada dia?
Sem dúvidas, esse é um novo olhar sobre o sistema educacional e um dos principais desafios quando o assunto é educação contemporânea, uma vez que mexe com a estrutura da educação básica e a preparação para o profissional do futuro.
“Está claro que o processo de adaptação a esse novo mundo é confuso, tumultuado e gera muito desconforto. Por outro lado, esse é o tempo em que todos estão inseridos e no qual é possível se beneficiar do bônus da ignorância para a criação de um novo paradigma na educação.”
Sandro Magaldi I José Salibi Neto
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