Até pouco tempo atrás, a figura do coordenador pedagógico ainda se confundia com o inspetor escolar, aquele fiscal que passava de sala em sala e, com uma postura autoritária e inflexível, não era muito bem visto pelos professores e alunos. Nesse cenário, havia pouco envolvimento desse profissional com o projeto educacional e, geralmente, ele desconhecia os reais problemas da instituição.
Então, sem uma área de atuação bem determinada, o coordenador escolar passava a acumular funções diversas, fossem administrativas, financeiras ou burocráticas, o que acabava por desfocar do campo pedagógico.
Felizmente, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, o trabalho desse profissional vem se firmando no seu real propósito, de ser um mediador entre as comunidades escolares, um articulador da proposta pedagógica e um agente transformador do cotidiano escolar. Então, nesse artigo, vamos esclarecer o que é o coordenador pedagógico da atualidade e os principais desafios enfrentados no seu cargo.
O profissional
Em algumas escolas, principalmente da rede pública, o cargo de coordenador é denominado Orientador Pedagógico e pode ser exercido por educadores de diversas áreas, independente da sua formação. Geralmente, nas escolas particulares, o coordenador é um professor que assume essa posição e também é um pedagogo.
Cada instituição define seus próprios requisitos para escolher seus coordenadores. No caso das escolas municipais, por exemplo, as exigências para ascender ao cargo de coordenador pedagógico constam no plano de carreira de cada cidade. Já, nas escolas particulares, normalmente, a seleção é feita por meio de currículo e entrevista, para avaliação das competências.
Toda escola precisa ter esse profissional para atuar como um facilitador no diálogo com as comunidades interna e externa e um agente de formação, tanto dos professores quanto dos estudantes, que seja parceiro na sua posição de liderança e tenha compromisso com a aprendizagem de todos.
Campo de atuação
A função do coordenador pedagógico é exercer o papel de articulador, formador e transformador na escola, juntamente com o diretor, com o objetivo de garantir que as relações reflitam verdadeiramente o propósito daquela instituição e estimular uma gestão democrática.
Dessa forma, ele alinha a comunicação com o coletivo escolar, no convívio dos professores, alunos e demais funcionários, além da comunidade externa, como os pais de alunos e o entorno da escola. Assim, ele deve acompanhar a evolução dos estudantes, individual e coletivamente, e tratar esse assunto com os respectivos pais, sobretudo aqueles de alunos em situações problemáticas. Além disso, esse profissional deve abrir espaço para o debate, a troca de informações e a resolução de conflitos, a fim de criar uma atmosfera de confiança.
Para que esse relacionamento seja efetivo, o diálogo se torna imprescindível. Somente assim é possível aliar o Projeto Político-Pedagógico (PPP) à rotina escolar, nas ações do dia a dia, na forma de ensinar uma série de disciplinas, bem como, na identificação e tratamento das dificuldades e necessidades da instituição.
Estar atento ao mundo dentro da sala de aula é uma das dimensões desse trabalho. Nesse sentido, o coordenador pode orientar sobre a forma de lidar com os alunos e turmas que necessitam de maior atenção no processo de aprendizagem ou, num cenário mais atual, propor novas formas de incluir a tecnologia e inovação no ambiente escolar.
Aqui, entra o papel do coordenador como agente transformador. Ele precisa questionar e analisar constantemente as práticas acadêmicas e orientar os demais educadores a fazerem o mesmo, em busca da adequação das atividades escolares a partir de ideias inovadoras.
Segundo a professora e coordenadora Silvana Augusto, o cotidiano dentro das instituições deve contar com:
- ações que colaboram para o fortalecimento das relações entre a cultura e a escola;
- a organização do produto da reflexão dos professores, do planejamento, dos planos de ensino e da avaliação da prática;
- o arranjo das rotinas pedagógicas de acordo com os desejos e as necessidades de todos; e ligar e interligar pessoas, ampliando os ambientes de aprendizagem.
Tão importante quanto articular e transformar, uma das grandes responsabilidades do coordenador pedagógico é assumir o seu papel de formador. Não só dos alunos, mas especialmente do corpo docente, como um articulador da formação continuada. Assim, deve haver o incentivo à realização de cursos e à criação de projetos que aprimorem as suas práticas pedagógicas.
Veja abaixo como o coordenador pedagógico pode superar os desafios diários:
Principais desafios do coordenador pedagógico
“A própria não formação faz com que, às vezes, o coordenador não tenha certeza de como desempenhar seu papel. Ele não se sente seguro e acaba se dedicando a outras tarefas”
Vera Placco
(Professora da pós-graduação em psicologia da educação na PUC em entrevista à Revista Educação)
O acúmulo de funções sob a responsabilidade do coordenador faz com que o real objetivo educacional da instituição fique cada vez mais longe. Mais comum até a década de 1990, além da figura de inspetor e atendente, o coordenador atuava na organização de eventos, substituía professores ausentes e assumia os papeis de psicólogo, advogado e juiz, em conflitos entre alunos.
Além disso, orientava as famílias sobre o processo de aprendizagem de seus filhos e as comunicava sobre as ações tomadas no ambiente escolar. Raramente, ele conseguia se atentar às causas de uma criança agressiva ou à dispersão de uma turma em sala de aula. Muitas vezes, tomado por funções administrativas, financeiras e burocráticas não conseguia evoluir na questão pedagógica da escola.
E, hoje, isso ainda é uma realidade em algumas escolas, onde o coordenador pedagógico é solicitado para resolver problemas pontuais e urgências que poderiam ser redirecionadas a outros profissionais. Por isso, uma das grandes dicas para a posição de coordenador é saber estabelecer prioridades.
O posto de coordenador pedagógico poderia ser mais valorizado e reconhecido se também não fosse pela falta do plano de carreira. Essa incerteza do futuro do cargo na escola é uma questão trabalhista que, muitas vezes, põe em xeque o interesse dos professores em desempenhar a função.
Ainda há, por vezes, certa dificuldade no relacionamento com o corpo docente, o que compromete o engajamento nos projetos pedagógicos propostos pelo coordenador. Daí a importância do bom relacionamento interpessoal e de conhecer a fundo a instituição para a qual trabalha.
A constante atualização dos conhecimentos, por meio dos cursos de capacitação, e o aprofundamento por meio das experiências, dentro e fora da sala de aula, são componentes essenciais para construir a identidade desse profissional.
Em suma, no exercício da sua profissão, o coordenador pedagógico deve priorizar o diálogo aberto, de modo que insira as famílias no contexto educacional e defina com clareza as funções de cada pessoa no ambiente escolar, mantendo a boa comunicação. Da mesma forma, ele deve valorizar e estimular a formação continuada dos educadores e superar paradigmas em favor de um PPP bem construído.
Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá e professora do Instituto Superior de Ensino Vera Cruz, enfatiza a importância de perpetuar as boas ideias idealizadas por profissionais, que, muitas vezes, já não atuam mais na instituição:
“Na verdade, ele (o coordenador pedagógico) se faz cada vez mais necessário porque professores e alunos não se bastam. Além das histórias individuais que todos escrevemos, é preciso construir histórias institucionais. É duro constatar a fragilidade de tantas escolas que montam um currículo e uma prática efetiva durante anos e perdem tudo com a transferência ou a aposentadoria de professores. Construir história nos torna humanos, e é de estranhar que, justamente na escola, tantas vezes tudo recomece do zero. O coordenador eficiente centraliza as conquistas do grupo de professores e assegura que as boas ideias tenham continuidade.”
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O Coordenador Pedagógico tem direito ter duas cadeiras e poder se aposentar em ambas. Temos atividades diretamente com alunos. É um crime impedir isso!
Olá Maria Helena, muito obrigada por seu comentário!
É sim possível atuar em mais de uma função na escola. E isso pode, inclusive, tornar o profissional mais preparado para atuar em um contexto tão complexo quanto o ambiente escolar, não é mesmo? O importante é a valorização do profissional e as condições que ele tem (ou que são dadas a ele) para exercer essas atribuições.
Obrigada mais uma vez por sua contribuição!
Onde esta essa Lei?
Aqui no meu município não é assim…
Olá, Leire
A qual lei você se refere? Mencionamos no texto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que é um documento nacional.
Abraços!
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