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Como o livre brincar contribui para a formação social da criança

Publicado por Bruna Fariasem 14 de julho de 202131 de maio de 2024

Você, adulto, como se lembra das brincadeiras de sua infância? Pense sobre as brincadeiras de que gostava e como elas costumavam começar: era a partir de conversas? De objetos? De pessoas? Do clima? Do tempo de que dispunham? Do lugar em que estavam?

O início das brincadeiras e a atitude brincante merecem a atenção de todos os que estão de alguma forma envolvidos com crianças, sejam eles pais, professores, cuidadores, outros membros da família ou comunidade. O brincar é a linguagem da criança, é a forma como ela se comunica, conhece o mundo e se percebe como agente nele. É através da brincadeira que a criança aprende, testa, enxerga a si mesma e tudo ao seu redor. É por reconhecermos a importância do brincar que vamos tratar de um subtema neste artigo: o livre brincar.

O livre brincar é o mesmo que o brincar convencional?

Não. Embora o livre brincar seja uma forma de brincar (entre outras possíveis), nem toda brincadeira é livre. Quando as regras estão previamente estabelecidas e não há espaço para improvisação, espontaneidade, sugestão e até mesmo diversão, esta prática não pode ser considerada livre brincar.

O que é, então, o livre brincar?

As propostas do livre brincar fazem jus ao seu nome, pois deixam a criança agir livremente. Não apenas livre para fazer as escolhas que desejar, mas para assumir o papel de protagonistas no momento em que brincam. No livre brincar a criança cria e age. Cria seus personagens, suas histórias, suas regras, seu cenário e o que mais surgir em sua imaginação. É desta forma que ela se depara com o imprevisível, surpreende quem está brincando com ela e é também surpreendida pelas interferências de quem a estiver acompanhando.

Embora possa soar simples, habilidades como decidir, criar, improvisar, sugerir, aguardar, propor e discordar, entre outras, não são apenas parte da brincadeira, são habilidades socioculturais que toda criança tem o direito de conhecer.

Segundo Gabriela Romeu, jornalista especializada em produção cultural para a infância e culturas infantis, devemos “[…] contribuir para termos crianças mais bem resolvidas sócio-culturalmente e capazes de crescerem adultos que levem adiante as mudanças, se permitirmos que nossos filhos brinquem. Brinquem com um repertório de diferentes brincadeiras.”

Para que o livre brincar aconteça, é necessário que haja observação e escuta por parte do adulto responsável pela criança. Após conhecer os interesses dela, não será necessário oferecer outros estímulos, apenas dar condições para que ela caminhe ao encontro do que deseja saber, explorar e/ou experimentar.

As propostas de livre brincar podem causar estranhamento aos familiares, professores e até mesmo a algumas crianças que não tenham experiência em brincar sem regras predeterminadas. Como elas brincarão livremente, guiadas apenas por si mesmas e por seus desejos, vontades e imaginação, o papel do adulto pode parecer um pouco confuso. É por isso que a seguir, trataremos de como o livre brincar pode aparecer em casa e na sala de aula.

O livre brincar no contexto familiar e doméstico

Existem algumas formas de propiciar momentos de brincadeira livre em casa. Veja abaixo uma lista de sugestões para que esses momentos aconteçam:

  • Disponibilização de materiais não estruturados

Tenha em algum local de sua casa ou sala de aula objetos que possam ser adicionados a brincadeiras de imaginação. Exemplos: tecidos, materiais recicláveis, objetos da área de interesse da criança, utensílios domésticos variados. Que tal criar uma caixa antitédio? Ela pode ser retomada em momentos de ócio ou de criatividade aflorada!

  • Atenção aos interesses da criança em situações diversas

Faça silêncio e ouça. Ouça suas novidades, o que desejam lhe ensinar, o que podem falar por minutos a fio e o assunto que mais repetem. Ouça tudo isso como material relevante que pode ser usado como formas de se relacionar com a criança. Traga esses assuntos para o momento do livre brincar. É estreitamento de laços afetivos na certa!

  • Ter atitude brincante

Patricia Camargo, especialista em desenvolvimento infantil pelo brincar, faz a seguinte descrição: “Atitude brincante é o hábito de aproveitar o espírito da brincadeira nas atividades do dia a dia. E isso conquistamos como se conquista qualquer coisa: com a prática constante e a determinação.” 

De acordo com a pesquisadora, atitude brincante é transformar momentos do dia a dia em brincadeiras curtas. Em vez de fazer com que a rotina se desenrole de forma tensa e arbitrária, adicione diversão aos momentos de escovação dentária, do banho e da organização de objetos.

  • Baixar as barreiras da realidade

Crianças tendem a ser menos fiéis à realidade e a explorar sua capacidade imaginativa. Adultos, porém, tendem a ter uma postura mais realista mesmo em momentos divertidos. Se a criança, no meio da brincadeira, disser: “Que tal comprarmos roupas na farmácia?”, abaixe as barreiras da realidade e entre no sonho! Uma resposta possível seria: “Que tipo de roupas você acha que encontraremos por lá?”. Desse modo, o adulto age como impulsionador da imaginação e permite que a criança continue a explorar a realidade criada por ela mesma.

É possível incluir o livre brincar também na realidade escolar?

Sim e em diversos momentos, porém nem toda criança brincando está brincando livremente. É natural que as crianças se entretenham em momentos de espera como filas, refeitório ou troca de aulas. Contudo, atenção: se a brincadeira tiver sido determinada previamente, sem espaços para criação e/ou experiência de liberdade, não se trata de livre brincar.

O livre brincar na escola, tal qual em qualquer outro lugar, acontece da mesma forma: deixando a criança criar. Portanto, veja abaixo dicas que professores podem usar para inserir esses momentos na prática docente:

  • Perceber seus alunos como sujeitos individuais e coletivos

Quanto mais atencioso e ativo o professor for com as crianças, mais benefícios elas terão. Isto significa que, como na realidade doméstica, em que os familiares devem silenciar um pouco mais para ouvir seus filhos e filhas, na escola os educadores também devem ter sua escuta atenciosa ativa. Atenciosa, para perceber seus interesses, curiosidades e relação com a própria imaginação. Ativa, para usarem tudo que ouviram de forma que beneficie de fato as crianças.

As crianças têm aptidões e interesses subjetivos e alguns deles encontrarão pares na sala de aula. Alguns interesses podem inclusive formar grupos, unir e separar crianças. O papel do professor diante desta pluralidade é o de mediador, que usa da comunicação para organizar interesses, intermediar decisões e possibilitar formas de interação durante o brincar que atendam da melhor forma todas as crianças envolvidas.

  • Ter um espaço destinado ao livre brincar na sala de aula 

Seja este espaço físico fixo ou móvel, preparar na sala de aula um local que as crianças interajam entre si, pode ser proveitoso para o professor e para elas. Para as crianças, pois saberão aonde ir quando desejarem ou precisarem de uma dose de imaginação, interação e divertimento. Para o professor, pois poderá propor que determinadas crianças brinquem só ou interajam com outras, conforme o que perceber no momento ou sobre o(s) indivíduo(s). Esse canto pode ser usado para espera, interação, criação ou de qualquer outra forma que a criança o veja.

Para esse local, o professor poderá disponibilizar alguns materiais não estruturados, preferencialmente ligados aos interesses das crianças. Por exemplo, um pregador de roupas pode representar um crocodilo, um corpo humano ou uma árvore. Mas se as crianças se encantam com dinossauros, ele pode se transformar e servir de dinossauro também. Ou outros objetos podem virar dinossauros também.

  • Propiciar momentos criativos

As barreiras da realidade também devem ser baixadas pelo professor e esse deve ser um exercício diário. Para que as crianças tenham mais chances de exercer sua criatividade, o melhor é que elas encontrem um professor que embarque em suas aventuras imaginárias! 

Pensar sobre essas oportunidades parece um pouco mais fácil quando se trata de crianças pequenas, porém o mesmo vale para os profissionais que atuam no Ensino Fundamental, especialmente nos anos finais, quando os alunos geralmente já não se sentem ouvidos ou desafiados. O exercício da criatividade e imaginação deve estar presente em todas as idades.

  • Mediar o compartilhamento de repertórios 

Considerando a pluralidade cultural que um grupo traz, cabe ao professor fazer presente toda a diversidade em brincadeiras. Crianças podem compartilhar seus repertórios entre si, mas também podem criar algo novo a partir das contribuições dos colegas. Que tal propiciar um momento em que todas as brincadeiras viram uma só, em que as crianças decidem quais regras seguirão e por quê? O resultado será uma brincadeira única, criada pelo seu grupo e uma oportunidade divertida de ensiná-los argumentação, acordos, respeito e diversão.

  • Ver o brincar como um ato político

Se ensinar é um ato político, como brincar não seria também? Se estivermos atentos, será possível perceber durante as brincadeiras exemplos de falas autoritárias, classistas, racistas e com questões de gêneros implicadas. Não por isso teremos que excluir canções ou livros do repertório infantil, mas a revisão das práticas e brincadeiras precisa chegar no ato do brincar.

Após tantas considerações, podemos afirmar que o livre brincar está associado à construção da autoconfiança, da potência criativa e da autonomia. Também, que adultos devem silenciar para escutar as crianças e que uma alta dose de realidade pode dificultar o percurso imaginativo de crianças. Que haja mais liberdade no brincar, mais tempo e espaço para garantir uma melhor qualidade de interação. Que ele respeite os diferentes contextos e que possa estreitar laços afetivos!

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