A demanda por profissionais da educação que atuam no contexto bilíngue está cada vez mais alta. Afinal, ela acompanha o crescimento do número de escolas que adotam essa abordagem, principalmente aquelas que trabalham o inglês como segunda língua.
Isso torna esse mercado bastante aquecido em termos de vagas de trabalho e tem atraído, em grande parte, o professor iniciante que pretende começar nesse segmento. Porém, não é de hoje que diretores de escolas bilíngues vêm relatando dificuldades em encontrar profissionais habilitados para atuar em sala de aula.
Apesar de existirem muitos educadores de alto nível no nosso país, a realidade é que a maioria não fala inglês. Muitos deles não chegam ao mínimo desejado, de forma que consigam interagir nas mais diversas circunstâncias utilizando o idioma, de forma fluida e segura. Aliás, estima-se que apenas 1% da população brasileira seja de fato fluente na língua inglesa.
Mas será que só o inglês é suficiente? O que um professor precisa ter para lecionar numa escola e programas bilíngues?
Confira algumas dicas para um professor iniciante que pretende atuar em contextos bilíngues e precisar estar preparado para entrar nesse novo mundo da educação.
Formação básica para um profissional bilíngue
Num primeiro momento, é preciso que o professor tenha formação em Pedagogia ou em Letras, enquanto requisito mínimo para atuar com ensino bilíngue na Educação Básica. E, para lecionar nos anos finais do Fundamental e no Ensino Médio, também é exigida a licenciatura na área curricular correspondente.
Além disso, é necessário que ele comprove um nível de proficiência na língua inglesa igual ou superior ao B2, de acordo com o Common European Framework, que equivale a um usuário ou profissional independente, em relação à aplicação do idioma.
Se tiver interesse em se aprofundar ainda mais sobre a nova regulamentação da educação bilíngue no Brasil e as diretrizes curriculares, confira tudo o que você precisa saber sobre o assunto no artigo que postamos recentemente aqui.
Em termos de certificação, para comprovar a devida proficiência, que prevê a capacidade do professor iniciante de falar, compreender, escrever, ler textos diversos e lidar com variadas situações que possam surgir na segunda língua, o profissional deve ter, ao menos, um desses requisitos:
- Certificado B2 First ou B2 Business Vantage, emitidos por Cambridge;
- 87 pontos no TOEFL;
- Nível 5 no IELTS;
- 60 pontos no BULATS.
Aliás, nós temos um podcast sobre esse assunto, em que falamos sobre a formação de professores bilíngues e como funciona o processo de seleção nas escolas. Você pode acessar por este link do YouTube e conferir o bate-papo completo com as nossas coordenadoras e revisor pedagógico.
Entretanto, esses conhecimentos sozinhos não são suficientes, porque a educação bilíngue exige conhecimentos específicos como integração de currículos, avaliação em duas ou mais línguas, biletramento e tantos outros assuntos que merecem uma atenção especial. Por conta disso, há inclusive um aumento considerável no número de cursos de especialização em educação bilíngue. É uma tentativa de suprir essa necessidade em ter os conhecimentos específicos para atuar dentro do contexto bilíngue.
Competências mais amplas
Com as constantes transformações que vêm ocorrendo na educação em todos os sentidos, especialmente nos últimos anos e impulsionadas pelas evoluções tecnológicas, o profissional da área deve se propor a desconstruir alguns conceitos enraizados de tempos atrás. Afinal, o aluno de ontem não é o mesmo de hoje, o que reflete diretamente na sua forma de aprender.
No contexto bilíngue, é importante que o profissional tenha em mente a necessidade de desenvolver competências que vão além da formação básica e a fluência em dois idiomas, mas que, de fato, ampliem o seu repertório sociocultural.
Ou seja, ele deve se atentar a outros conhecimentos que refinem a sua visão de mundo — o que faz toda a diferença no desempenho em sala de aula, proporcionando experiências de aprendizagem orientadas para cada faixa etária dos alunos e, assim, contribuam para uma formação de qualidade.
Por isso, essas competências podem permear os mais diversos aspectos do desenvolvimento infantil, passando pela formação da inteligência, do pensamento, da aprendizagem, da socialização e da construção afetiva. Essa é uma das principais dicas para professores iniciantes de educação infantil.
O fato é que um professor bilíngue não deve se limitar às questões curriculares e à atmosfera da sala de aula no processo de ensino-aprendizagem, mas ele tem o papel de aliar a prática pedagógica e o sentido da experiência, formando seres humanos preparados para o futuro, com autonomia, pensamento crítico e percepção de mundo.
Diretrizes Nacionais Curriculares para a Formação Inicial e Continuada de Professores de Educação Básica.
Você sabia que há um parecer relacionado à formação dos educadores? O parecer de 2019 traz uma introdução justificando a criação do documento e também de que forma algumas leis apontam para adequação curricular dos cursos, programas ou ações da formação inicial e continuada de professores.
Há ainda um breve histórico das políticas de formação e valorização do professor mostrando os esforços que o país realizou no campo das políticas públicas de formação docente.
O documento traz “dez competências gerais que representam um conjunto de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que buscam promover o desenvolvimento dos estudantes em todas as suas dimensões: intelectual, física, social, emocional e cultural. Tais competências são a seguir apresentadas“(BRASIL, 2019, p. 14):
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital;
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas;
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural;
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo;
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva;
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade;
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta;
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas;
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza;
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Há menção também sobre os princípios da organização curricular dos cursos de formação docente. Alguns princípios dizem respeito à prática na formação que deve ir além do estágio obrigatório; levando em conta o compromisso com sua aprendizagem e com o direito de aprender dos seus estudantes, o valor social da escola e da profissão docente, o fortalecimento da autonomia dos estudantes, o reconhecimento e respeito pelas instituições de educação básica como parceiras imprescindíveis à formação de professores, em especial as das redes públicas de ensino, entre outros.
Dicas práticas para um professor bilíngue iniciante
Agora que você compreendeu os requisitos necessários e as competências desejáveis para integrar o time de profissionais numa escola que trabalhe com contextos bilíngues, vamos partir para as dicas mais práticas que vão ajudar um professor iniciante a começar a sua carreira com o pé direito.
- Prepare a aula com antecedência
Antes de entrar na sala de aula, leia o material com antecedência, conheça estruturas e vocabulário-chave daquele conteúdo e alinhe as propostas. Também prepare atividades extras e preveja possíveis perguntas que os alunos possam fazer e elabore as devidas respostas para essas situações. Essa é uma das melhores técnicas para professores, iniciantes ou não. Lembre-se de deixar espaço para perguntas por parte dos alunos. O que será que eles querem aprender sobre o assunto?
Para o primeiro dia de aula, idealize como se apresentar como professor da melhor forma e considere estabelecer e compartilhar uma rotina, preparando os alunos para o que está por vir no dia a dia. O primeiro contato é muito importante para começar a criação de vínculo.
É interessante que o aluno saiba como funcionará a grade curricular durante a semana. Por exemplo, às segundas-feiras, o aluno sabe que irá trabalhar nos projetos de Matemática, na terça, terá Arte, e assim por diante. Então, ele também vai se familiarizando com o vocabulário e palavras-chave de cada matéria. Se você compartilhar também os objetivos de aprendizagem com seu aluno, ele saberá porque está aprendendo aquele conteúdo e terá dicas sobre o que será esperado e avaliado.
Ademais, essa prática transparece ao aluno o quanto você está preparado e sabe o que está fazendo, além de proporcionar autoconfiança e segurança para ministrar as aulas e conseguir oferecer o melhor para a turma.
- Maximize o acesso ao idioma
Quanto mais você disponibilizar formas de acesso à língua dentro da sala de aula, melhor para o aluno, uma vez que favorece o processo de aprendizagem. Portanto, o uso de murais, pôsteres, legendas, sinalizações, jogos, livros, músicas, aplicativos, dentre outros recursos, contribui para expor ao máximo a segunda língua para os estudantes.
Muitas vezes, o professor iniciante ainda não se deu conta de que, hoje em dia, uma criança de dois anos já teve acesso a um tablet, celular e aplicativos que são divertidos, animados e promovem estímulos dinâmicos.
Então, o profissional que não compreende essa celeridade e criatividade necessárias para se relacionar com essa geração não será capaz de acompanhar as mudanças e trabalhar com o futuro da educação.
- Estimule o uso do idioma
Isso pode ser feito tirando o foco do professor, que cada vez mais assume a posição de mediador, abrindo espaço para o aluno participar ativamente na construção do conhecimento.
Assim, as aulas passam a ser centradas nos interesses dos alunos, a partir de debates, projetos em grupo, dentre outras atividades que estimulem o uso e os façam raciocinar por meio da segunda língua. Tão importante quanto ser exposto ao idioma de instrução continuamente é praticá-lo em diversos cenários. E, em sala de aula, a socialização com o professor e outros alunos é o que permite praticar o idioma, daí a importância de criar oportunidades para que isso aconteça.
- Permita-se ser um modelo para os alunos
Ainda que possam surgir algumas inseguranças por ser um professor iniciante, é importante que o aluno perceba em você um parceiro durante a jornada dentro do bilinguismo. Por isso, quanto mais aberto e receptivo você se mostrar, além de compartilhar as próprias experiências, melhor para a relação entre professor e aluno.
Do mesmo modo, realize atividades contextualizadas e significativas para os estudantes, se atentando aos seus interesses, ao tipo de pergunta que eles levam para a sala de aula e à forma com que eles aprendem. Na medida do possível, utilize esses ganchos para introduzir atividades que sejam relevantes e despertarão o interesse dos alunos.
- Ofereça ajuda individual
Nesse contexto, você também pode oferecer ajuda individual, se mostrando disponível e proporcionando assistência assim que o aluno demonstrar alguma dificuldade. Uma dica interessante é fazer semanalmente ou até diariamente, dependendo da turma, um “pair up” com o seu aluno.
Isso pode ser feito por conferência individual, um bate-papo rápido, para que você possa fornecer um feedback, conhecer melhor o nível de cada um e identificar suas dificuldades.
Dessa forma, é possível traçar um planejamento para trabalhar em cima das necessidades reais dos alunos, respeitando as suas peculiaridades e ritmo de aprendizagem.
- Participe de uma comunidade de professores e invista em capacitação
Se na sua escola ainda não existe um grupo de apoio, crie um ambiente que estimule o compartilhamento de informações e experiências entre os professores, coordenadores, diretores e outros profissionais do campo pedagógico.
Então, promover debates, conversas, o compartilhamento de materiais, ideias e planos de aula são atividades que permitem o trabalho em conjunto entre todos os profissionais, formando uma comunidade saudável dentro da escola.
E, por fim, vale citar a importância de investir no desenvolvimento profissional e se manter atualizado sobre o que acontece na esfera do bilinguismo. Vale fazer leituras diversas, pesquisas, ficar atento aos congressos, seminários, palestras e outros eventos do segmento. Para acompanhar as notícias sobre Educação Bilíngue, você pode visitar sempre o nosso blog e também baixar diversos materiais gratuitos relacionados ao tema e que, certamente, irão te ajudar no seu desenvolvimento pessoal e profissional.
A YOU possui um grupo de estudos para educadores e você pode fazer parte de forma simples e gratuita. Quer saber como? Acesse aqui.
Essa é a melhor forma para adquirir informações importantes sobre esse universo bilíngue, ter novas ideias e renovar a sua forma de educar. Aproveite e confira 7 dicas de ouro para o professor bilíngue ou não.
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