Parece óbvio, mas ainda existem muitos mistérios em como o cérebro se relaciona com a aprendizagem de outras línguas.
Uma das provas disso é que a neurociência ainda não faz parte de muitos dos currículos de cursos de graduação com foco em licenciaturas.
Costumamos pensar o cérebro como o motor central do nosso corpo, onde tudo acontece e sob o qual estão todas as responsabilidades e respostas que o nosso ser precisa. Assim, compreender seu funcionamento, estrutura, capacidades e incapacidades torna-se de grande importância para que educadores possam extrair o melhor das experiências educacionais, dentro e fora da escola.
Ao considerarmos a neurociência como o estudo científico do sistema nervoso, precisamos reforçar a ideia de que somos o resultado da nosso biologia e o meio em que vivemos e que esse estudo não pretende biologizar processos de aprendizagem nem propor receitas prontas. Afinal, como isso seria possível se cada indivíduo conta com particularidades cerebrais e sociais exclusivas?
Vamos pensar o ciclo da vida e como o cérebro funciona basicamente nas diferentes fases. As crianças são dotadas de uma exuberância sináptica que possibilita ao cérebro uma infinidade de conexões neurais, logo, uma infinidade de possibilidades educacionais que estimulam a aprendizagem. Com o passar do tempo, essas conexões vão passando pelas chamadas “podas neurais”, que graças ao amadurecimento do cérebro que se estende até por volta dos 30 anos, fazem com que algumas conexões, por serem pouco estimuladas, usadas ou por fazerem menor sentido a partir do contexto social, se enfraquecem até deixarem de existir.
Confira aqui um artigo completo sobre neurociência e bilinguismo infantil.
Na aprendizagem de línguas adicionais, ainda que não seja impossível aprendê-las una fase adulta, é inegável que os esforços exigidos nesta fase são muito maiores que os requeridos na infância, quando o cérebro está em erupção neural. Além disso, precisamos pensar que, quando crianças, nosso contexto social nos permite ser mais livres, com menos filtros e emoções inibitórias, fazendo com que essa fase conte também com isso como aliado na aquisição de outros idiomas.
Por esses motivos (e através de muitos estudos e pesquisas), neuromitos como a sugestão de que aprender outro idioma na infância pode causa confusão no desenvolvimento da língua de nascimento ou que podem retardar a aprendizagem como um todo, podem sair do senso comum de uma vez por todas. Veja aqui nosso artigo sobre mitos e verdades do bilinguismo.
Esses costumam ser pontos comuns levantados por pais e até por outros educadores ou profissionais da educação quando se trata de uma proposta de educação bilíngue. Muitas vezes as crianças combinam as duas (ou mais) línguas às quais são expostas, e isso causa estranhamento e preocupação naqueles que não entendem bem o porquê isso acontece. Conhecido como “code mixing”, essa mistura dos idiomas ao qual a criança tem acesso numa mesma fala ou escrita é muitas vezes consciente, já que como seres bilíngues, muitas vezes não é possível expressar-se como se deseja tão claramente em uma das línguas, e por isso misturá-las garante ao locutor/ escritor que a ideia seja passada como se deseja. Além disso, ainda que muitos pequenos, os bilíngues sabem com quem interagem, e por isso optar por uma ou outra língua (inclusive negar-se a usar uma delas) ou ainda misturá-las, faz parte de um processo de escolha consciente em busca de uma comunicação efetiva. Obviamente, toda essa maturidade cerebral e expansão repertorial linguística em nada atrasa a aprendizagem. Para saber mais sobre o processo de alfabetização e ensino bilíngue, confira o nosso artigo aqui.
Sim, existem tantos mistérios entre o céu e a terra quanto nos estudos do cérebro. Por isso muitos estudos de casos e pesquisas têm trazido novidades no que tange o bilinguismo e o desenvolvimento da aprendizagem no cérebro. Fato é que, enquanto vivemos, nosso cérebro é capaz de aprender.
- Cérebro e aprendizagem de línguas: qual a relação? - 13 de dezembro de 2020