No âmbito educacional, não é de hoje que o ensino híbrido é apontado como uma das maiores tendências do século 21. Com a pandemia do novo coronavírus, praticamente de uma hora para a outra, foi imposto o ensino remoto como a única alternativa possível para as escolas continuarem atuando naquele momento. E o aluno, por sua vez, se viu num novo cenário para a sua rotina de estudos, em que a sala de aula deu lugar à sua própria casa e tudo passou a ser feito pelo computador ou smartphone.
Essa mudança trouxe à tona diversas discussões, o que ampliou a concepção de Educação, contribuindo para compreender os desafios, as propostas e, sobretudo, a reconfiguração do papel do professor, da escola, do gestor, das famílias e dos alunos nesse processo.
Basicamente, a proposta do ensino híbrido envolve uma nova organização para a comunidade escolar:
- O gestor precisa criar um ecossistema e desenvolver um novo currículo, de acordo com as condições estruturais e a realidade social da instituição de ensino, com foco nos meios de informação e comunicação entre o professor, o aluno e a família. Afinal, o processo educativo exige essencialmente a interação, seja ela presencial ou remota.
- O professor deve atender às demandas de capacitação para poder usar plenamente os recursos disponíveis em sala de aula e nos períodos remotos.
- As famílias devem participar, propiciando condições para os estudos dentro de casa e fazendo o devido acompanhamento.
- Os alunos devem estar dispostos a aprender dentro desse modelo, ou seja, a assumir sua responsabilidade no processo de aprendizagem, por meio de participação e iniciativa, resolvendo problemas, desenvolvendo projetos, etc.
Para isso, não basta uma pitada de inovação. Esse movimento deve ser disruptivo e colaborativo em cada escola, sem modelos padronizados. Tudo indica que, sim, o ensino híbrido veio para ficar. Mas ele precisa ser encarado com a seriedade que o momento exige e, a partir de um intenso planejamento, ser adotado para atender às necessidades que a Educação clama há muito tempo.
Oportunidade de renovar o nosso modelo educacional
Não é de hoje que se fala sobre a importância de colocar o aluno na posição de produtor do conhecimento em vez de mero consumidor da informação, uma das principais bandeiras levantadas pela BNCC. Da mesma forma, se enaltece a formação de sujeitos críticos, que sejam capazes de pensar sobre o passado, o presente e o futuro e que saibam estudar, trabalhar com textos, resolver problemas, entre muitos outros aspectos fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, o ensino híbrido vem como uma oportunidade para alterar antigos modelos de ensino que ainda prevalecem nas escolas e criar um novo formato aderente às necessidades da educação atual. Essa mudança implica e requisita atividades diferentes das que são trabalhadas atualmente pelos professores, e demanda, acima de tudo, um planejamento mais minucioso do ponto de vista pedagógico.
O processo deve ser gradual e não depende somente da ação da escola, mas deve levar em conta as especificidades de cada estudante e a possibilidade de contar com um ambiente propício para que ele se desenvolva.
E na fase remota do ensino híbrido, o desafio é ainda maior. É preciso analisar quais atividades do ensino presencial são possíveis de serem aplicadas à distância com a ajuda de recursos tecnológicos ou quando se faz necessário repensar os encaminhamentos pedagógicos, os princípios do planejamento, as tarefas a serem executadas em outro contexto, etc.
Ou seja, não se trata de algo automático e repentino, mas de algo que exige planejamento, trabalho intencional, flexível, e o emprego gradual das ferramentas com as quais os estudantes precisam se familiarizar para adquirir e exercitar conhecimentos na sua rotina escolar, atendendo às expectativas para esse novo modelo.
O ensino híbrido no universo digital
Entrando no alicerce digital, o fato é que, na Educação, essa questão acaba sendo reduzida simplesmente a ter, ou não, acesso a um computador e à internet. Ainda que seja uma dimensão importante, isso não garante a eficiência no processo educacional e a participação adequada dos alunos.
O grande fator da desigualdade nesse quesito está justamente na falta de treinamento e conhecimento prévios para o uso adequado desses recursos. De nada adianta prover computadores e internet sem entregar uma arquitetura pedagógica consistente com planejamento. Por exemplo, uma simples pesquisa num mecanismo de busca como o Google requer um conhecimento prévio, não somente sobre como utilizar ferramentas online, mas também sobre o assunto que ele está prestes a pesquisar.
Portanto, é fundamental introduzir os alunos no universo digital e prepará-los para se utilizarem do universo do conhecimento, que vai além dos recursos tecnológicos, uma vez que eles não serão capazes de avançar sozinhos sem uma base, e necessitarão o trabalho estruturado do professor antes de estabelecer qualquer tarefa.
Essas são dimensões que, muitas vezes, passam despercebidas, quando se discutem as expectativas para a Educação e se indica somente a tecnologia como solução. É preciso compreender que o cerne está sempre na dimensão pedagógica, a única que possibilita criar condições de usufruir devidamente dos recursos digitais.
A importância da interatividade no processo educacional
As possibilidades de interação são um ponto-chave no processo de aprendizagem, especialmente nas séries iniciais, e com o ensino híbrido, esse importante aspecto ganha novos formatos.
Por exemplo, é da natureza das crianças pequenas aprender por meio da colaboração, ou seja, é difícil, para elas, aprenderem sozinhas. Da mesma forma, em qualquer fase da Educação Básica, é preciso que haja interação com alguém para obter feedback sobre a execução das atividades, aprender a rever ou corrigir as próprias tarefas, apontar o que está certo ou errado, indicar caminhos.
A aprendizagem sempre depende do ajuste e da ajuda de alguém, e essa é uma parte intrínseca desse processo. É por meio de atividades interativas que as crianças aprendem e são levadas a ganhar autonomia e protagonismo ao longo do tempo, sendo, portanto, imprescindível levar em conta esse ponto no planejamento educacional, o que também ajuda a balizar o papel da tecnologia a fim de adotá-la da melhor forma.
Com a pandemia, foi possível observar que simplesmente encaminhar tarefas para as crianças e adolescentes cumprirem de casa não é o suficiente. Além de não garantir o aprendizado, todas as atividades que até então envolviam socialização se tornaram solitárias. Por isso, o fato é que levam vantagem os alunos que podem contar com o amparo dos familiares ou com a atuação de outros adultos fazendo esse meio de campo.
Nesses novos rumos, fica claro que o período de isolamento trouxe uma consciência sobre a necessidade de mudanças na educação brasileira. E, para que esse passo seja dado, é preciso coragem e ousadia dos educadores, diretores, coordenadores, donos de escolas e todos os envolvidos no processo educacional.
Comunicação e formação de alunos não se fazem somente por meio de plataformas digitais. Existe uma série de recursos que são usados em sala de aula nos períodos presenciais além dos “bons e velhos” materiais impressos. E é isso que faz com que cada escola tenha o seu espaço de formação permanente, onde se faz a ponte com o que está no currículo, o alinhamento das expectativas, se avalia o andamento do ensino-aprendizagem e se discutem propostas e melhores práticas, num estudo coletivo formado por uma equipe pedagógica colaborativa.
“Informação não é conhecimento, memória não é inteligência e tecnologia não é pedagogia, uma tem que estar a serviço da outra”.
Maria Inês Fini
Se você quer conhecer mais a fundo o que é ensino híbrido, as suas vantagens, modelos de atividades e ter acesso a um plano de aula pronto, leia os nossos artigos “Reflexões sobre o ensino híbrido na educação infantil” e “Ensino híbrido, sala de aula invertida e metodologias ativas e suas potencialidades”.
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