Seria redundante explanarmos sobre a importância da língua inglesa para os dias de hoje, num contexto social, cultural e profissional, tratando-se de um idioma amplamente reconhecido como língua global ou franca.
Da mesma forma, são evidentes os efeitos da modernidade, causados pelos avanços tecnológicos e da globalização, que geraram uma demanda por informação rápida, característica das gerações mais atuais. A internet, sem dúvida, revolucionou a comunicação no mundo e, paralelamente, impactou na educação.
Na tentativa de acompanhar essa evolução, as instituições de ensino, cada vez mais, enxergam a necessidade de rever as metodologias tradicionais no processo de aprendizagem de um idioma adicional.
Por isso, falaremos sobre as particularidades da aula tradicional de inglês e do método CLIL também para a língua inglesa. Assim, vamos elucidar as principais diferenças entre essas metodologias.
Em outro artigo, falamos sobre a origem do bilinguismo no Brasil e, apesar de o ensino ter passado por mudanças, podemos observar que muitas práticas de instrução utilizadas há décadas ainda perpetuam nas salas de aula tradicional hoje em dia.
“À medida que as gerações da Internet desenvolvem o Digital (como um idioma adicional), é necessário repensar toda a aprendizagem de assuntos através de uma perspectiva sensível ao idioma.”
David Marsh
(Precursor do CLIL)
Modelo de aula tradicional
Conforme falamos no artigo sobre bilinguismo na educação infantil, o Brasil ficou em 53º no índice de proficiência (EPI), pelo sexto ano consecutivo, dentro do ranking de 88 países. Esse dado de 2018 aponta a baixa proficiência da nossa população, confirmada pelo Conselho Britânico, o qual afirmou que somente 5% dos brasileiros têm a capacidade de se comunicar em inglês e, destes, apenas 1% é considerado fluente.
Afinal, as escolas de idiomas estão no Brasil há mais de 50 anos. Então, por que não há milhões de pessoas falando inglês por aqui?
O sistema tradicional de ensino se apoia num modelo que visa à aprovação dos alunos em testes e o seu ingresso nas universidades. Por isso, esse modelo é baseado na progressão gramatical, e tem como principais atividades a leitura, tradução e produção de textos. Assim, para a aquisição de vocabulário e conhecimento das regras gramaticais, na aula tradicional, geralmente são trabalhadas as técnicas de memorização e de repetição.
Da mesma forma, os exercícios gramaticais são realizados de forma dedutiva, que, na prática, atendem aos “3 Ps” ou PPP (Presentation, Practice, Production). Ou seja, o professor apresenta as regras e os alunos as aplicam em exercícios. Invariavelmente, a interação se dá do professor para o aluno, como no ensino tradicional, em que a figura do professor é central em sala de aula e, assim, pouca autonomia é atribuída aos alunos.
Basicamente, se ater aos aspectos estruturais do idioma é uma das principais características da pedagogia tradicional no ensino de língua estrangeira. E isso gera um obstáculo à fluência, que é essencial para que os estudantes possam, de fato, ler, escrever, conversar, pensar e desenvolver competências na língua-alvo.
O Ensino Integrado de Língua e Conteúdo (CLIL)
A sigla CLIL é uma abreviação de Content and Language Integrated Learning, que traduzimos como Ensino Integrado de Língua e Conteúdo, e trata-se de uma tendência que cresce cada vez mais no segmento do ensino de línguas em vários países, especialmente na Europa.
Essa metodologia difere da aula tradicional, pois tem como ponto central trabalhar o conteúdo e a língua estrangeira de forma integrada, sintetizando e promovendo um modo flexível de aplicação baseado nos mais elevados programas de ensino de idiomas, como a educação bilíngue, multilíngue e imersão.
“CLIL é uma forma de aprendizagem de línguas, mas é raramente uma forma de ensino de línguas.”
David Marsh e María Frigols
(autores do livro Uncovering CLIL)
Diferentemente da aula tradicional de inglês, o CLIL tem como base o conteúdo curricular com orientação por meio de uma segunda língua, induzindo ao aprendizado com viés holístico, considerando também o aspecto intercultural.
Tendo como cerne o foco duplo no idioma e conteúdo, o método CLIL vem sido utilizado e testado em diversos contextos. Assim, apresentam-se muitas variantes e uma vasta gama de abordagens, que acabam por dividir opiniões quanto à sua aplicação, tornando a definição do tema bastante ampla e flexível.
Segundo David Marsh, cientista político que desenvolveu o método, “as aplicações do CLIL são múltiplas, dependendo do nível educacional, do ambiente e da abordagem específica adotada”. Sendo assim, a aula tradicional pode ceder lugar ao CLIL tanto em escolas públicas quanto particulares.
Vertentes do CLIL
A professora e formadora de docentes em programas bilíngues / CLIL desde 1997 Kay Bentley defende três abordagens para o método CLIL, e que também são as mais comuns, são elas: Soft, Hard e Modular.
O modo Soft CLIL, como o próprio nome indica, é o mais “suave” dentre os três. Esse modelo propõe que as aulas de língua estrangeira, por vezes, trabalhem em cima de um assunto ou tópico específico do currículo, priorizando a aprendizagem da língua. Segundo a Universidade de Cambridge, no seu glossário TKT – Teaching Knowledge Test – CLIL, a modalidade Soft CLIL se trata do “ensino de tópicos do currículo escolar como parte da aula de línguas”.
O método Modular CLIL propõe a divisão do conteúdo em módulos, assim, o professor define uma parte a ser lecionada na língua nativa e outra na L2. Esse é apontado como um modelo ideal para as escolas em fase de transição da aula tradicional de língua estrangeira para o CLIL.
E, por fim, no modelo Hard CLIL, ou imersão parcial, cerca de metade das disciplinas do currículo, ou mais, é ensinada na língua estrangeira, conferindo mais contato com o segundo idioma.
Aplicação do CLIL e corpo docente
De certa forma, ainda não existe uma forma concreta de aplicar a metodologia CLIL, uma vez que não há um consenso entre especialistas e estudiosos da área. Há quem defenda o equilíbrio 50/50 entre conteúdo e língua, assim, ambos seriam priorizados. Já outras referências falam na aplicação do CLIL, independente de haver uma proporção 90% de conteúdo não linguístico e 10% idioma. Da mesma forma, o CLIL pode ser considerado, em alguns casos, como um programa completo de instrução. Em outras circunstâncias, é definido por atividades isoladas ou tarefas em um idioma que não o materno.
Por isso, é importante realizar pesquisas nas salas de aula, a fim de encontrar a melhor forma de integração entre conteúdo e L2 e, assim, promover a melhor atuação do professor nas configurações do CLIL, considerando seus aspectos teóricos, empíricos e pedagógicos.
Segundo especialistas do método CLIL, tanto os professores de conteúdo (subject teachers) quanto os de língua estrangeira (language teachers) e assistentes de turma (class assistentes) são aptos a atuar com a metodologia. No entanto, é primordial que haja a comunicação e um alto grau de cooperação entre eles. Esse trabalho em conjunto é essencial para formular novas didáticas e, então, alcançar uma integração real, combinando forma e função, nesse processo de ensino.
Resultados do CLIL
Diversos estudos têm apontado as vantagens em adotar a metodologia CLIL em ambientes formais de educação, nos quais alunos apresentam níveis de proficiência mais altos, em comparação àqueles submetidos ao modelo de aula tradicional.
Assim como, estudantes bilíngues formados pelo modelo CLIL apresentaram melhores resultados, em relação aos alunos do ensino tradicional, nos aspectos relacionados à leitura, compreensão oral, fluência, vocabulário, pronúncia e precisão na linguagem escrita e falada.
“Função e forma, ação e conhecimento são mutuamente dependentes. Ação sem conhecimento é cega, vácuo. Conhecimento sem ação é estéril. Encontrar o equilíbrio certo é a chave para o aprendizado e o ensino de sucesso.” [tradução nossa]
John Trim
(Especialista em fonética, linguística, didática da linguagem e política)
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