Quando falamos sobre o espaço escolar também tratamos sobre a sua identidade e a cultura de ensino que nela permeia. Assim, entram em cena a estrutura física da escola, a organização, a manutenção e a segurança, o que reflete diretamente nas relações sociais e no processo de ensino-aprendizagem dos alunos.
Por isso, falaremos sobre a importância da qualidade funcional e construtiva na composição do espaço escolar, de forma que favoreça o desenvolvimento e a formação das crianças por meio da proposta pedagógica. E esse cenário vai além de garantir os direitos básicos, como a educação, respeito às individualidades, saúde, higiene, segurança, alimentação adequada, brincar e se movimentar, entre outros. Mas trata também sobre como as crianças são desafiadas a construir seu conhecimento por meio do espaço escolar.
Para começar, vale conhecer conceitualmente o que é espaço escolar, que consiste no local onde são realizadas as atividades, também referente ao mobiliário, objetos de decoração e recursos didáticos. Já o termo “ambiente” se trata de uma abordagem mais ampla. O ambiente seria a junção do espaço físico escolar com os relacionamentos que ali ocorrem, o envolvimento social e emocional tanto com os adultos quanto as crianças.
Complementando esse raciocínio, a arquiteta Mayumi Souza Lima, também autora dos livros Arquitetura e Educação e A cidade e a criança, desconstrói a ideia de separar os dois termos para a realidade da criança:
“O espaço físico isolado do ambiente só existe na cabeça dos adultos para medi-lo, vendê-lo, guardá-lo. Para a criança existe o espaço-alegria, o espaço-medo, o espaço-proteção, o espaço-mistério, o espaço-descoberta, enfim, os espaços de liberdade ou da opressão.”
Um mundo de experiências
Uma coisa é certa: O espaço escolar sempre educa! Independente da realidade, não podemos ignorar a importância da estrutura física da escola. Desde os seus elementos simbólicos, a organização das salas de aula e outros ambientes, o tipo e a disposição das carteiras e do mobiliário até a própria arquitetura do prédio e a sua localização.
“Os espaços do homem refletem a qualidade dos seus sentidos e sua mentalidade.”
Yi-Fu Tuan
(Geógrafo – um dos precursores da geografia humanista)
Desde a primeira infância, o entorno influencia diretamente sobre as nossas experiências e a forma como interpretamos o mundo real. Com isso, tudo o que enxergamos, ouvimos, cheiramos, tocamos e degustamos define como aprendemos, nos orientamos, sentimos, pensamos. Essa gama de referências constitui a nossa identidade, sensação de pertencimento, forma o caráter e, assim, geramos a cultura.
“Por isso dizemos que o ambiente ‘fala’, transmite-nos sensações, evoca recordações, passa-nos segurança ou inquietação, mas nunca nos deixa indiferentes”
Miguel Ángel Zabalza
(Professor e autor do livro Qualidade em Educação Infantil)
O espaço escolar deve ser mais do que um facilitador para a sua proposta pedagógica, mas ser o próprio fator de aprendizagem, que, quando bem organizado, contribui na realização das atividades.
Conforme falamos no nosso artigo 5 maneiras de diferenciar a minha escola da concorrência, a educação tende a acompanhar a realidade da vida cotidiana dos estudantes. Com essa adequação, o processo de ensino-aprendizagem juntamente com a ambiência se torna cada vez mais personalizado.
Da mesma forma, abordamos em outra oportunidade sobre a Educação 4.0 que a sala de aula tradicional é substituída por um ambiente mais amplo, democrático, colaborativo, interativo, o qual promove o trabalho em grupo e a inteligência interpessoal. Além disso, pode (e deve!) atravessar os muros da escola.
“Existem muitas pesquisas mostrando que as crianças se beneficiam ao aprender e brincar ao ar livre. Um resumo disso pode ser encontrado no site Children and Nature Network. Mas se você observar as crianças brincando em um espaço natural já é possível testemunhar estes resultados: as crianças que passam mais tempo na natureza aparentam ser fisicamente mais ativas, têm melhor coordenação, capacidade de resolver problemas, de se autorregular, demonstram mais independência e são mais sociáveis.”
Juliet Robertson
(Consultora de educação especializada em aprendizagem ao ar livre)
Fazer com que os professores e gestores despertem o gosto de aprender nas crianças e o olhar para a inovação disruptiva no uso do espaço escolar, sem dúvida, é uma premissa para qualificar o trabalho educativo nos dias atuais.
Revolução na cultura do ensino
Ao ser questionado sobre o que é preciso fazer para conquistar o aluno quando tudo fora do espaço escolar parece ser mais interessante, o filósofo, educador e professor Mario Sergio Cortella, em entrevista ao Estadão, defendeu que é preciso conhecer o universo circunstancial dos alunos e saber o que os interessa para, então, chegar ao conteúdo necessário.
“Temos de partir do universo vivencial que o aluno carrega para chegar até aquilo que de fato é necessário acumular como cultura produzida pela humanidade. Hoje, a escola não pode ser extremamente abstrata, como no meu tempo. O conteúdo tem de ser conectado com o dia a dia.”
Mario Sergio Cortella
Na entrevista, Cortella explicou que para encantar as crianças é importante incorporar o que elas já fazem no cotidiano e deixa a dica: “A geração anterior, de quem já tem mais de 30 anos, só se comunicava pelo telefone. Esta geração de crianças e jovens voltou a escrever – no Facebook, no Twitter, no WhatsApp, em blogs. A escola tem de aproveitar essa produção.”
Outro grande desafio ao espaço físico da escola de educação infantil é que, com a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, os educandos portadores de necessidades especiais passaram a frequentar a rede regular de ensino, o que trouxe uma nova forma de integração.
Por isso, é essencial que os sistemas de ensino se atentem aos requisitos e às adaptações necessárias apropriadas a cada tipo de deficiência e, assim, estarem aptos a atender da melhor forma todos os alunos.
Otimização da rotina e a importância do espaço escolar na educação infantil
Como vimos, existe uma íntima relação entre o espaço escolar e a proposta pedagógica da escola. E, do mesmo modo, a otimização do tempo é outra vertente que deve ser considerada nessa questão.
A organização do ambiente é determinada conforme o planejamento das práticas educativas do dia a dia na educação infantil. Daí a importância de se levar em conta a temporalização da vida das crianças, respeitando o seu ritmo individual, não considerando somente o tempo coletivo.
“Qualquer um que permaneça sentado durante quatro horas, mesmo com pequenas interrupções, nas carteiras escolares espalhadas pelo Brasil saberá a que tortura submete a criança. Se a essa tortura específica somarmos o calor e/ou o frio excessivo que decorrem do uso inconsequente de materiais construtivos inadequados, é de se espantar que alguma criança ainda consiga gostar de estudar.”
Mayumi Souza Lima
Portanto, a composição no espaço escolar deve considerar quatro dimensões, que são inter-relacionadas:
- Física: condições da estrutura escolar (piso, parede, objetos decorativos) e organização do mobiliário.
- Temporal: Quando e como cada ambiente é utilizado.
- Funcional: a forma como o espaço escolar é utilizado e a sua polivalência.
- Relacional: Quem usufrui de cada ambiente e como.
Para te inspirar nesse processo, escrevemos um artigo inteirinho sobre os benefícios de uma sala de aula inovadora, que com certeza irá trazer ideias incríveis!
- Educação contemporânea: entenda os principais desafios! - 28 de abril de 2020
- Aula tradicional x CLIL: Entenda as diferenças! - 12 de março de 2020
- Como o uso do espaço escolar reflete na proposta pedagógica da escola - 28 de fevereiro de 2020
Infelizmente a maioria das escolas ainda não estão preparadas para ter esse espaço escolar tão fundamental para a “modernização” da educação. Ainda estamos na sala de aula tradicional, infelizmente.
Percebo que essa substituição por um ambiente mais amplo, democrático, colaborativo, interativo é essencial e a necessidade é urgente. Esse novo espaço democrático é sensacional e eu gostaria muito de me utilizar dele.
Além disso, vejo que a escola tem que envolver mais não só os pais e a famíla dos alunos e sim toda a comunidade. Isso ajuda no crescimento escolar e educacional.
Precisamos mudar mesmo!
Concordamos com o seu comentário e ponto de vista, Andreza! Muito obrigada por compartilhar conosco! 💜
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