O Bilinguismo no Brasil acompanha um fenômeno mundial que acontece desde o início da linguagem na história humana.
Segundo o professor e ex-diretor do Laboratório de Linguagem e Processamento da Universidade de Neuchâtel, François Grojean, diversos fatores são responsáveis pelo bilinguismo, como imigração por motivos políticos, sociais e econômicos, culturais e educacionais.
No Brasil, esse movimento proporcionou uma transformação no processo educacional. Salvo o português, que é o único idioma oficial do país, atualmente o Brasil conta com cerca de 220 línguas, sendo que 180 delas são faladas pelos indígenas.
Mas como foram os primeiros passos do bilinguismo no Brasil? Quando realmente se tornou um fenômeno no nosso país?
Neste artigo, focaremos no bilinguismo relacionado à atividade de aprender inglês como segunda língua, mas o tema é válido no aprendizado de qualquer outro segundo idioma, como espanhol, francês e, inclusive, a linguagem de sinais (Libras).
O bilinguismo
Para começar o assunto, vamos entender um pouco sobre o conceito acerca do termo que, devido à sua complexidade, até hoje não existe uma definição concreta.
Entretanto, há um consenso entre linguistas e especialistas que, de forma geral, o bilinguismo é a capacidade de se comunicar com clareza em duas línguas. Isso engloba as habilidades de falar, ler, escrever e compreender com eficiência.
Em sentido amplo, um indivíduo é considerado bilíngue quando tem segurança para se expressar em duas línguas nos mais diversos contextos e ambientes.
É comum que a maioria dos bilíngues seja mais fluente na língua nativa, dominante. O nível de fluência equivalente em ambos os idiomas é uma exceção e ocorre, geralmente, quando uma criança é exposta às duas línguas, com a mesma frequência e intensidade, desde os primeiros anos de vida (normalmente abaixo dos dois anos). Dessa forma, ela já cresce com duas línguas maternas e adquire igual proficiência em ambas.
Vale ressaltar que existem diversos tipos de bilinguismo. Alguns cientistas chegam a defender 37 variações baseadas em diferentes perspectivas, quanto à definição, processo e resultados.
Bilinguismo no Brasil e Educação Bilíngue
Se voltarmos ao início da colonização, quando os portugueses chegaram ao Brasil desconheciam as línguas dessa terra. Logo, assim como eles aprenderam as línguas nativas, também passaram a ensinar o português aos índios.
Dessa forma, o relacionamento entre portugueses e indígenas se intensificou de tal maneira que documentos oficiais, como contratos comerciais e casamentos mistos, por exemplo, passaram a integrar mais de uma língua.
Após esse período da catequização dos índios na língua portuguesa, foi somente no século XX que o bilinguismo foi adotado nas salas de aula.
Atualmente, as duas línguas oficiais do Brasil são o português e a de sinais (Libras). Porém, os idiomas mais requisitados e estudados pelos brasileiros, devido aos efeitos da globalização, são o inglês, em primeiro lugar, e o espanhol, em segundo.
Estudos apontam que o ensino de inglês para crianças teve início nos anos 80 e, desde então, o número de escolas com esse idioma no currículo só tem aumentado. Na cidade de São Paulo, principalmente, foi a partir da década de 90 que algumas escolas adotaram o inglês como segunda língua em seus programas de ensino.
Confira no artigo Por que adotar o bilinguismo na educação infantil a diferença entre ensino bilíngue e curso de inglês, além de dados que confirmam a forte ascensão do bilinguismo no Brasil.
“O desenvolvimento do bilinguismo no Brasil é resultado direto de uma maior demanda mercadológica, que em grande parte se deve à pressão exercida por pais de alunos de escolas regulares.”
Flávia Queiroz Hoexter
(Revista Intercâmbio, vol. XXXV; 2017)
Boom da língua inglesa no Brasil
Desde 1809, devido à abertura dos portos para o comércio estrangeiro e o estabelecimento de tratados a fim de regulamentação das relações entre Brasil e outros países, o Príncipe Regente do Brasil institucionalizou o ensino público de línguas. Assim, criou as duas primeiras Cadeiras, uma de língua francesa e outra de língua inglesa, nomeando o padre irlandês John Joyce como primeiro professor oficial de inglês da corte.
Em 1838, foi inaugurado o Imperial Colégio de Pedro II, que adotou o inglês como disciplina no programa de ensino, o que marcou a inserção da língua inglesa no currículo escolar brasileiro.
“Segundo o plano de estudos estabelecido pelo Regulamento de 17 de fevereiro de 1855, o ensino de Inglês figurava do segundo ao quarto ano. Pode-se constatar também que o ensino de Francês figurava do primeiro ao terceiro ano. É interessante observar que o ensino destas duas línguas ‘vivas’ fazia parte apenas dos Estudos de Primeira Classe, ao lado do ensino das Matemáticas, das Ciências Físicas e Naturais e da História e Geografia do Brasil. Portanto, o ensino de Francês e de Inglês era visto como um conjunto de disciplinas básicas necessárias para aqueles que pretendessem seguir uma das carreiras técnicas ou pretendessem prosseguir os estudos de segunda classe.”
Ricardo W. Q. Jucá
(Dissertação de Mestrado em Educação)
De certa forma, o inglês passou a ter uma maior aceitação na nossa cultura a partir da década de 1920, com a chegada do cinema falado no Brasil.
Em 1942, o ensino de línguas estrangeiras não se baseava mais em ler, ouvir, falar e escrever, mas englobava a absorção de valores culturais, por meio da observação e reflexão. Para isso, passaram a ser utilizadas ferramentas, como giz colorido, ilustrações, objetos, discos e filmes no processo de aprendizagem.
Foi, então, após a Segunda Guerra Mundial que aprender inglês passou a ser, além de uma vontade cada vez mais comum, uma necessidade estratégica. Esse fato se deveu à dependência econômica do nosso país em relação aos Estados Unidos, em decorrência da força e reconhecimento do mercado e política norte-americanos. Ainda nessa época, com a demanda, surgiram os primeiros cursos livres de inglês por aqui.
Em 1996, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que rege a educação no Brasil até hoje. Dentre as regras, essa lei estabeleceu a necessidade de implantar uma língua estrangeira a partir do ensino fundamental. Assim, o inglês passou a fazer parte da grade curricular de escolas públicas e privadas, devido à conhecida relevância e domínio desse idioma no mundo.
Bilinguismo na mídia
Embora não existam registros oficiais que marquem o início do bilinguismo no Brasil, sabe-se que é um fenômeno relativamente recente. Essa tendência passou a ser mais disseminada na mídia jornalística, principalmente, a partir dos anos 2000. Estas são algumas das matérias sobre o tema nos principais veículos midiáticos:
“Aprendizado precoce: Quanto mais cedo, mais fácil” (Folha de São Paulo – 26/08/2003).
“Por um cérebro bilíngue” (Revista Educação – 14/07/2006).
“Fluência em um segundo idioma e acesso ao estudo no exterior atraem brasileiros para escolas bilíngues” (O Globo – 24/01/2008).
“Cresce procura por escolas bilíngues no País” (O Estado de São Paulo – 22/01/2010).
“Bebês têm aula de inglês antes mesmo de falar” (Folha de São Paulo – 12/06/2011).
“Crianças bilíngues têm mais facilidade na alfabetização” (O Estado de São Paulo – 09/02/2012).
“Falar duas línguas desde cedo é positivo” (O Estado de São Paulo -23/09/2013).
Por sinal, você conhece os benefícios do bilinguismo? Nesse artigo, abordamos fundamentalmente as principais vantagens do ensino bilíngue no desenvolvimento humano, tanto no aspecto intelectual quanto físico, e a idade certa para tirar o melhor proveito e garantir uma formação bicultural.
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Realmente existe uma grande procura por escolas bilíngues e também uma grande oferta do produto, a questão maior é que muitas destas escolas apesar de oferecer o produto, não tem o ensino bilíngue como dizem ter. É preciso saber diferenciar muito bem esse produto, tenho visto uma onda de escolas se beneficiando do método bilíngue sem no entanto usá-lo.
Concordamos plenamente com você, Wanessa! Esse é de fato um ponto muito importante e que deve sim ser levado muito em consideração. Muito obrigada por seu comentário! 💜
Parabéns. Criaram várias nomenclaturas em nosso país. Exatamente para confundir a população que desconhece o produto. Método Bilíngue, sistema bilíngue, e assim vai. Quanta criatividade tem esse povo!
Olá, Sanio!
Obrigada por seu comentário. 🧡
Verdade, os termos confundem mesmo, não é? Talvez seja porque a discussão seja relativamente nova no país e até 2020 não havia nenhum documento que regularizasse o que é uma escola bilíngue e um programa bilíngue. Você sabia que já estamos caminhando nessa questão? Recentemente, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as Diretrizes Nacionais para a Educação Plurilíngue no Brasil. Ainda precisa ser homologado, mas estamos no caminho para organizar a situação.