Promover a participação mais ativa dos alunos em sala de aula é uma dificuldade para muitos professores em algum momento de sua trajetória profissional. Agora, com a aula remota, isso se tornou um desafio ainda maior. Afinal, se dentro da escola já existiam motivos para distração, em casa, o foco da atenção tem que vencer muitas outras tentações, como o celular, a televisão, a internet, a presença dos familiares, os barulhos, o animal de estimação, etc.
Antes de tudo, é importante sabermos que o engajamento é um fator de motivação que possui alguns componentes:
- Senso de autoeficácia: aquilo que o indivíduo conhece ou acredita conseguir realizar; é diretamente ligado à confiança em si mesmo.
- Senso de autorregulação: comportamentos, pensamentos e sentimentos orientados por um mecanismo interno voluntário e consciente, baseado em metas e padrões pessoais de conduta.
- Relevância do assunto: se o que está sendo dito, visto e apresentado faz sentido para quem está acessando.
Nesse momento, o aluno em casa precisa sentir que é capaz de aprender e produzir. Ou seja, assim como os professores, os estudantes também estão se redescobrindo como aprendizes nesse novo formato, a aula remota. E os educadores, por sua vez, além de continuarem oferecendo o seu melhor nesse processo, com novas abordagens e metodologias, precisam levar carinho, demonstrar empatia, ter resiliência e ceder espaço para favorecer a construção da autonomia do aluno.
Nesse processo, estudantes e professores precisam aprender a usar novas ferramentas e a se redescobrir no novo ambiente. Então, saiba como aumentar a participação de alunos durante a aula remota.
A importância do apoio familiar
O professor destina um espaço em aula para ajudar o aluno na autorregulação. Ele entende que toda oportunidade que aparece é importante para isso. Quando, por exemplo, percebe que um aluno se distraiu, ele conhece os meios para auxiliá-lo a recuperar o foco e o ajuda a conhecer-se e a entender o que fazer diante de situações como essa no futuro. O professor estuda para ter ferramentas para isso. Mas esse trabalho, na aula remota, acaba ficando a cargo da família em casa também. E a família, por sua vez, não sabe ao certo como garantir a participação e contribuir para o engajamento, dando suporte, criando incentivos e propiciando meios que permitam ao estudante focar num ambiente digital. E se o aluno não participa, fica ainda mais difícil para ele conectar-se com aquilo que está sendo tratado, independentemente do assunto ou de um bom plano de aula.
Para isso, num primeiro momento, o professor deve se questionar sobre a construção do vínculo com os familiares: “Estou realmente escutando os meus alunos e suas famílias? O que sei sobre eles e sobre o que faz sentido para eles?”. Entre as diversas informações que podem humanizar essa experiência virtual e permitir idealizar outras formas de planejar uma boa aula, é importante que ele conheça as expectativas de cada família e a adaptação dos estudantes durante as aulas remotas a fim de conseguir um maior envolvimento com eles. Isso pode significar, por exemplo, enviar materiais, vídeos e áudios específicos para as famílias como forma de se aproximar, explicar o que está por trás de certas propostas pedagógicas, orientar quanto à realização das atividades e dizer o que de fato se espera delas.
Quando se trata da aula remota para educação infantil e para o 1º ano do Fundamental, que são as turmas mais afetadas pela falta do ambiente escolar, também é interessante saber que ferramentas digitais os alunos possuem em casa (uma vez que é necessário o acompanhamento dos responsáveis), com que dispositivos eles estão mais acostumados, os programas e aplicativos mais utilizados pela família (tanto os relacionados à escola quanto ao seu entretenimento), por que temas se interessam e outras informações relacionadas à tecnologia. Com essas respostas, o professor consegue, além de ter novas ideias, trazer um outro olhar para a sua aula, aproximando o contexto familiar.
Sala de aula invertida e outras metodologias ativas
Esse formato de ensino é umas das alternativas mais interessantes e que melhor se adaptam às necessidades deste período de aula remota e EAD. Em outra oportunidade, abordamos a fundo as metodologias ativas e explicamos como funciona a sala de aula invertida. Se ainda não leu estes artigos, não deixe de conferir!
Basicamente, a proposta da sala de aula invertida envolve três etapas principais:
- Preparação:
Primeiramente, os alunos são submetidos a um desafio, que pode ser um questionamento sobre um determinado assunto. O professor, então, pode disponibilizar materiais em textos, vídeos, artigos, charges e links interessantes, de autoria própria ou não, para que eles façam as suas investigações, reflitam e tentem chegar à conclusões. A ideia é fazer com que evoluam com autonomia a partir do direcionamento dado.
Hoje, sabemos do perigo das pesquisas livres na internet, principalmente com o risco do aluno apropriar-se de conceitos falhos e informações duvidosas. Portanto, o ideal é promover certa liberdade nas pesquisas, mas sempre orientadas pelo professor, que irá mostrar os melhores caminhos para encontrar as respostas certas, o que também inclui ensinar o estudante a checar as suas fontes e decidir se são confiáveis.
- Atividade em grupo:
Os alunos podem ser divididos em pequenos grupos para resolver algum problema referente ao tema central proposto e realizar experiências ou trabalhos em conjunto. Esse é o momento de colocar à prova os conhecimentos adquiridos nas pesquisas e, se necessário, continuar o aprofundamento no assunto com novas investigações até atingir o objetivo.
- Sistematização:
Na última etapa, os grupos de alunos debatem a atividade e, com a mediação do professor, chegam a uma conclusão que consolide todos os pontos discutidos. Para essa conclusão, pode-se elaborar um mapa mental ou algo mais simples, como um resumo em um parágrafo, por exemplo.
A pesquisa prévia realizada pelo aluno nessa metodologia é uma forma de despertar a sua motivação para participar em sala de aula, seja expondo suas ideias, somando conhecimento ou fazendo perguntas e suposições, afinal, ele se sente confiante, pois teve acesso ao assunto previamente e, portanto, sabe sobre o que está falando. Essa é a hora em que ele se torna o centro do processo de ensino-aprendizagem e a responsabilidade se divide entre todos os participantes, inclusive o professor.
Adequando as abordagens às novas necessidades
É importante ter em mente que, quando se fala em aumentar a participação dos alunos em aula, não existem receitas prontas que funcionem em todas as situações, uma vez que há cenários bastante diversos entre as turmas e as instituições de ensino. Por isso, cada docente precisa buscar o que melhor funciona no seu caso, diversificando a forma de conduzir as aulas e abraçando as novidades que podem ser grandes aliadas, como a internet e o seu mundo de facilidades.
Entretanto, atentar-se a alguns aspectos pode fazer a diferença nesse processo, independentemente do contexto. Um deles é conhecer as diferenças entre os alunos, afinal, cada um é motivado de uma forma diferente e isso pode ser aproveitado com as diversas maneiras de se aprender. Ao identificar o formato de aula no qual os seus alunos se sentem mais à vontade, fica mais fácil inspirá-los e engajá-los.
Outro ponto importante é contextualizar a sua aula. Ainda é muito comum o pensamento de que muito do que é ensinado na escola não será útil para a vida. Então, discutir com o aluno a realidade referente àquele conhecimento, atrelá-lo à sua utilidade para o dia a dia ou a alguma função profissional, se torna mais um motivo para despertar o seu interesse.
Do mesmo modo, vale buscar alternativas para dar aulas criativas e dinâmicas. A sala de aula invertida, de que falamos anteriormente, é uma delas. Práticas simples podem reanimar o processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, fazer uma gravação em vídeo, dar uma aula ao vivo, mandar áudio no Whatsapp, fazer um audiolivro, criar nuvens de palavras ou caça-palavras, usar a gamificação, etc.
Por fim, é fundamental que a aula remota não seja encarada como mera exposição de conteúdos, mas que vá além das práticas tradicionais. Logo, intensificar a criatividade, com humor e uma atmosfera positiva, elogiar os alunos como forma de incentivo, questioná-los e fazê-los refletir e criar hipóteses são aspectos que favorecem um ambiente encorajador. Isso faz com que eles participem das aulas sem medo de errar.
“Criamos algumas estratégias para aprender ativamente, engajar os estudantes, acompanhá-los e construir uma relação afetiva […]. Descobrimos que podemos aprender ativamente em espaços digitais, desenvolver projetos, trabalhar com problemas, integrar laboratórios físicos e virtuais, aprender em tempos individuais e em grupos. E também que o educador ocupa um papel insubstituível como mentor. Sem dúvida esse foi o ano mais desafiador e inesquecível de nossas vidas”.
José Moran (Professor e pesquisador de Metodologias Ativas e de Processos de Transformação da Educação em entrevista à Fundação Telefônica – Vivo)
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